Não há pessoa no mundo (que prestou atenção nas aulas de geografia) que já não tenha ouvido falar do maior deserto do mundo, o Deserto do Saara. Eu sempre gostei de geografia e o Deserto do Saara era um assunto que eu sempre me interessava bastante, porém, eu nunca imaginei que em algum momento da minha vida eu iria andar em cima de um camelo com aquelas imensas dunas de areia que se perdem no horizonte como plano de fundo. Mas isso aconteceu, foi mais fácil do que eu imaginava e agora vou contar tudinho sobre essa experiência fantástica para vocês.

Planejamento

Eu fazia intercâmbio em Dublin, e durante um bate papo com os amigos a ideia de visitar o Marrocos apareceu. Começamos a pesquisar passagens aéreas e encontramos ótimos preços saindo de Dublin com destino a Marrakech (€90 ida e volta), então, compramos nossas passagens. Definido o período que passaríamos no Marrocos (uma semana) começamos a buscar um lugar para hospedagem e encontramos o Hostel Riad Marrakech Rouge que tem um preço ótimo (€11 a diária), é muito bem avaliado pelos visitantes e que fica localizado dentro da medina (partes antigas das cidades árabes que ficam dentro de muralhas). Em seguida começamos a procurar o tour para o deserto e aqui cabe uma dica importante.

Existem duas opções de passeios, Zagora tem dunas pequenas e bem sem graça, já o passeio para Merzouga te faz sentir de fato que está no Saara, dunas gigantes e mais dunas gigantes que se perdem no horizonte.

Comprando o passeio para o Saara

Encontramos diversos sites de companhias que fazem o passeio ao Merzouga, mas optamos por comprar o pacote pessoalmente, primeiro porque achamos que seria mais seguro e segundo por que poderíamos negociar o preço, já que pechinchar faz parte da cultura local. No final das contas acabamos fechando o passeio com o pessoal do Hostel Riad Marrakech Rouge por €75 (o preço real é €85, pechinchar é fundamental por lá).

Hostel Riad Marrakech Rouge

O Hostel Riad Marrakech Rouge tem o melhor staff que eu já conheci em um hostel.

Foram 3 dias e 2 noites onde estavam inclusos o transporte durante todos os dias, hospedagem, café da manhã, jantar e passeio de camelo pelas dunas do Saara. A viagem atravessa o Marrocos (são quase 700 Km de estrada) chegando muito próximo da fronteira com a Argélia, porém, no primeiro e segundo dia, várias paradas em pontos turísticos são feitas tornando a viagem menos cansativa.

1º dia – Marrakech / Cordilheira Atlas / Ait Ben Haddou / Ouarzazate

Acordamos bem cedo para aproveitar o café da manhã do hostel e antes que terminássemos o motorista que iria nos levar até o ponto de encontro já estava nos esperando, por isso saímos em direção a van ainda comendo o último pedaço de bolo do café. Chegamos no ponto de encontro e lá pegamos outra van, maior e mais confortável, que nos levaria até o Deserto do Saara e nos traria de volta para Marrakech são e salvos.

Dividimos o passeio com outras viajantes de várias nacionalidade, brasileiros, poloneses, japoneses e franceses, que nos ajudava a entender o que o motorista falava, já que apesar de não falar praticamente nada de inglês falam muito bem o francês.

Após alguns minutos dentro da van já começávamos a vislumbrar algumas montanhas cobertas por neve, algo que surpreendeu bastante já que quando pensamos em África pensamos em calor e deserto e não em neve. Fizemos uma parada em um café que estava no caminho e aproveitamos para admirar a bela paisagem do local e ter contato com um pouco de gelo acumulado na vegetação, resultado da gelada noite anterior. Após aproximadamente 2 horas estávamos a 2260 metros de altura, no topo da Cordilheira Atlas. A van para por cerca de 35 minutos para que os viajantes possam filmar, tirar fotos e admirar a bela paisagem do Atlas.

entrada do Atlas

Paisagem da primeira parada, no começo da subida para a Cordilheira Atlas o gelo começa a aparecer.

cordilheira Atlas

Vista do alto dos 2260 metros da Cordilheira Atlas.

Do alto do Atlas, é hora de descer em direção ao Ait Ben Haddou, patrimônio mundial da Unesco, um dos lugares mais famosos do Marrocos e favoritos dos diretores de Hollywood, pois é, os diretores adoram a local, que já serviu de set de filmagem para filmes, como “O Gladiador” (2000), “Príncipe da Persia” (2010), “A Múmia” (1999), entre outros, além de ser utilizado atualmente para episódios de “Game of Thrones” (2011- hoje). Um ponto interessante é que a cidade é tão bem preservada e bela que a série pouco teve de trabalhar em efeitos especiais para torná-la mais real para ao mundo de fantasia da série.

Ait Ben Haddou - Game of Thrones

O Ait Ben Haddou se tornou a cidade de Yunkai na série de TV Game of Thrones.

A van nos deixa em uma aldeia próxima ao Ait Ben Haddou, é necessário passar pela aldeia e atravessar o rio Ounila para chegar até a cidade fortificada, mas fique tranquilo pois sempre há um guia local simpático e que se vira muito bem no inglês aguardando e preparado para guiar e ajudar os viajantes no passeio pela cidade fortificada, que ainda abriga algumas famílias e também diversos pequenos comércios que vivem do turismo. O guia conta histórias e explica vários detalhes sobre a história do local e te deixa livre para explorar e admirar a vista do topo da cidade, onde está o túmulo de Ben Haddou.

post - Ait Ben Haddou

A vista que se tem do Ait Ben Haddou no início do passeio, antes de atravessar o rio Ounila.

post - Ait Ben Haddou

Entrando na cidade o contraste das construções com a vegetação enchem os olhos.

post - Ait Ben Haddou

Do alto do Ait Ben Haddou é possível ver a cordilheira Atlas e pequenos vilarejos vizinhos.

Depois da visita ao Ait Ben Haddou a van segue para a cidade de Ouarzazate, conhecida como os Portões do Saara onde almoçamos num restaurante bem legal, super bonito e, como tudo no Marrocos, com preço bastante razoável. O restaurante possui pratos típicos mas também pratos comuns da cultura ocidental, como o bife à parmigiana com fritas por exemplo. Com a barriga cheia, é hora de partir para a primeira noite no passeio, uma pousada na estrada que leva para a cidade de Dades.

restaurante de Ourzazate

Parada para o almoço em Ourzazate, restaurante bonito e com boa comida.

Nesse ponto da viagem aconteceu algo bastante curioso e até assustador,  no meio da estrada um cara que parecia estar muito puto da vida, segurando um galho imenso nas mãos entra na frente da nossa van e começa a ameaçar o motorista, após alguns minutos de discussão o louco da estrada começa a arremessar pedras na frente da van, até que uma acerta o para-brisa e trinca todo o vidro. Nessa hora o motorista desce da van e vai discutir com o cara, não me pergunte qual foi o motivo da confusão e o que eles estavam resolvendo, mas um outro cara que estava na estrada e que provavelmente teve problemas com o mesmo louco ajuda a resolver a situação e o louco vai embora carregando seu galho. Tudo acabou bem, seguimos viagem até nossa pousada e por lá ficamos.

Vale ressaltar que isso foi um fato isolado e que eu não conheço nenhuma outra pessoa que tenha vivenciado algo parecido. Em qualquer lugar do mundo imprevistos podem acontecer e na minha opinião, isso só enriquece a experiência.

Van apedrejada

O estrago que o louco fez quando jogou a pedra no vidro.

A pousada era bem organizada, limpa e confortável e depois de tomar um banho e arrumar as coisas, fomos aproveitar o jantar típico (incluído no valor do passeio) onde foi servido uma salada como entrada, o típico tagine (legumes cozidos com frango ou cordeiro) como prato principal e uma sobremesa simples, tudo muito gostoso. Ao fim do jantar, um grupo de locais deram um show de música típica e naturalmente participamos da bagunça e até da música, foi uma noite muito divertida.

2º dia – Oásis de Skoura / Dades Valley Todra Gorge / Deserto do Saara (Merzouga)

Na manhã do dia seguinte, ao nascer do sol estávamos todos tomamos o café da manhã na pousada e voltando para estrada, foi tudo meio corrido pois tínhamos um compromisso que surgiu em função do incidente da estrada na noite anterior, fomos todos depor em uma delegacia sobre o ocorrido. Ficamos lá por umas duas horas, todos foram contar o que viram para um policial que dominava bem o inglês. Fomos muito bem tratados e liberados para retomar nossa expedição ao Deserto do Saara.

post_saara_policia

Tirando uma foto escondida enquanto esperávamos o interrogatório policial.

A próxima parada foi o Oásis de Skoura, uma região repleta de palmeiras e riachos que principalmente durante a primavera e o verão se torna um alívio refrescante no calor intenso da região. Assim como no dia anterior, a van nos deixa na cidade e somos guiados por um nativo que nos leva em uma caminhada tranquila através do oásis até a cidade de Skoura, onde somos recebidos na casa de um vendedor de tapetes que nos serve um autêntico chá marroquino e demonstra as centenas de tapetes produzidos por ele manualmente. Há tapetes para todos os gostos e bolsos, mas lembre-se negociar está na alma dos marroquinos, por isso, pechinche a vontade, você com certeza conseguirá baixar bastante o preço.

oasis de Skoura

O oásis nem sempre é assim, tudo depende da época do ano, de março até julho é a melhor época.

tapete Skoura

Típico chá marroquino oferecido pelo vendedor de tapetes.

De volta a van, saímos de Skoura e paramos em um restaurante de beira de estrada, em seguida partimos com destino ao vale Todra Gorge na cidade de Dades, um riacho cercado por imensos paredões que começa no alto da cordilheira Atlas e segue até o Saara, muitos montanhistas praticam suas habilidades de escalada por ali. A visita não é muito longa, você fica livre para explorar a região por cerca de 40 minutos e então já deve voltar para a van e seguir viagem.

Todra Gorge

Todra Gorge e seus imensos paredões, um paraíso para quem gosta de escalar.

Saindo de Dades, a parte mais esperada do passeio se aproxima, a chegada ao Deserto do Saara. São mais ou menos 3 horas até chegarmos a região de Merzouga que é facilmente identificada pela paisagem árida e pelas dunas gigantes que já aparecem no horizonte. A cidade é pequena e parece ter mais estábulos do que casas. Quando a van finalmente chega no estábulo onde estão nossos camelos não há muito tempo para ficar explorando o local (e nem tem muito o que se explorar por ali mesmo), juntamente a outros viajantes somos organizados em pequenos grupos e levados ao camelos que irão nos transportar até o acampamento no meio do Deserto do Saara. Quando vemos, já estamos no meio do deserto, montados em nossos camelos numa expedição que dura aproximadamente uma hora e meia com destino ao mais famoso deserto do mundo, o Deserto do Saara.

deserto do Saara

Eu e meu amigo camelo sorrindo pra foto.

deserto do Saara

A clássica foto da sombra dos camelos.

deserto do Saara

A caminho do acampamento no meio do deserto do Saara.

Após alguns minutos o passeio é interrompido para que todos possam admirar o lindo pôr-do-sol em meio as dunas do deserto, todos dessem de seus camelos e caminham até o alto de uma duna para então curtir um momento único que ficará gravado eternamente na memória de quem faz essa expedição. Após um dos mais lindos pôr-do-sol que eu já presenciei, todos voltam aos seus camelos e seguimos para o acampamento, onde diversas cabanas serão nossos lares durante a fria noite do deserto.

deserto do Saara

Selfie com os amigos para registrar o pôr-do-sol.

deserto do Saara

Pôr-do-sol no deserto do Saara, uma paisagem para não esquecer nunca mais.

Nesse momento os guias tentam organizar as cabanas por grupos de amigos, mas eventualmente, pode ser que você divida a cabana com outras pessoas. A estrutura é bem simples e quase não há conforto. Dentro de cada cabana não há nada além de alguns colchonetes e cobertores, somos orientados a deixar nossos pertences na cabana e nos dirigirmos para a cabana principal, onde acontece o jantar (já incluído no pacote) que segue o padrão do jantar da noite anterior, uma entrada, um prato principal e uma sobremesa.

Após o jantar os guias fazem uma fogueira no meio do acampamento e começam a fazer um show de música e dança típica. Eu fiquei ali por alguns minutos mas logo saí do acampamento (a música é meio repetitiva) para explorar um pouco os arredores do acampamento. Era noite de lua cheia então não pude ver o famoso céu estrelado do Saara, entretanto, do alto de uma duna gigante que levei cerca de uma hora pra chegar no topo pude ver quilômetros e mais quilômetros de um deserto iluminado pela luz da lua, repleto de dunas que se perdiam no horizonte.

deserto do Saara

Noite no deserto regada a música e dança típica.

Depois de admirar a linda noite do Saara era hora de voltar para o acampamento e dormir, afinal, acordaríamos bem cedo na manhã seguinte para ver o nascer do sol no caminho de volta a cidade.

3º dia – Deserto do Saara / Atlas Mountains / Marrakech

Acordamos ainda no escuro, nos despedimos do acampamento, pegamos nossas coisas e voltamos aos camelos, logo os primeiros raios de sol começam a iluminar o céu e a noite começa a se transformar em dia, dessa vez não descemos do camelo, admiramos um dos mais belos shows da natureza em cima de nossos amigos camelos que parecem não sentir a caminhada que faz parte da rotina deles.

deserto do Saara

Camelos ao amanhecer

deserto do Saara

Nascer do sol no Saara de cima do camelo, voltando para o vilarejo de Merzouga.

Quando nos damos conta, já estamos de volta ao estábulo, nossa van está ali estacionada e um belo café da manhã nos espera em um salão, então comemos, voltamos para a van e começamos o último dia da expedição, um dia longo, são 8 horas dentro de uma van interrompidas apenas para um almoço na beira da estrada.

É tempo de lembrar de tudo que foi visto nos últimos dias e curtir pela janela da van, a paisagem fantástica e variada do Marrocos que passa pela cordilheira Atlas novamente, dessa vez no entardecer, um pouco antes de chegar em Marrakech.

post Saara

Hora de voltar e curtir a paisagem de dentro da van.

Dicas

  • Procure levar o mínimo de bagagem possível;
  • Roupas leves são essenciais, mas leve roupas que protegem do frio, a noite do deserto é bem fria;
  • Curta a experiência, experimente a comida típica e os costumes locais;
  • Leve algum dinheiro trocado, os guias locais de cada atração vivem da gorjeta dos viajantes, então, se achar que o serviço foi legal, faça sua parte;
  • Se houver qualquer incômodo durante o passeio de camelo, avise o seu guia, os camelos são altos e uma queda pode machucar;
  • E principalmente, respeite e trate com carinho os camelos, por mais que eles não demonstrem um pouco de amor sempre faz bem.

Conclusão

A expedição para o Deserto do Saara com certeza será uma das experiências mais incríveis da sua vida, o contato com um povo de cultura, aparência, culinária e condição social tão diferente nos faz rever nossos conceitos e abre a nossa mente para uma realidade que está longe do nosso dia-a-dia. Além disso, seus olhos serão contemplados com paisagens de tirar o fôlego e que nunca uma foto ou filme irá retratar 100% da beleza do local. Viajar ao Deserto do Saara é uma viagem sensorial, espiritual e inesquecível.

Ainda tem dúvidas?? Pergunte nos comentários que faremos o possível para ajudá-los.

Viaje !

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2 comentários em “Como viajar para o Deserto do Saara – O Guia Completo

  1. Fernando disse:

    Olá, parabéns pelo blog. Aqui eu encontrei informações bem completas sobre o tour pelo deserto do Saara. Gostaria de saber se há algum lugar para guardar as malas, pois como irei do Brasil, estarei com uma mochila grande e uma mala de mão. Eu poderei estar levando as duas malas na excursão ou tem algum lugar onde eu posso deixá-las?

  2. Diego Henrique Engel disse:

    Valeu Fernando, bom saber que o naPlaca te ajudou de alguma forma. Durante minha viagem ao Marrocos eu fiquei em um hostel, e quando fiz a expedição deixei minhas bagagens maiores no hostel, levei só o mais importante numa mochila menor. Mas quando for comprar o passeio pro Saara você pode conversar se pode levar sua mochila.
    .
    Ahhh.. se puder fazer a reserva da sua hospedagem por um dos nossos
    links do booking vou ficar imensamente agradecido 🙂
    Qualquer dúvida, pode chamar aqui outra vez. Uma abraço !!

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